Imuno-histoquímica

Imuno-histoquímica

A imuno-histoquímica (IHQ) é uma técnica fundamental na patologia veterinária, permitindo a identificação e caracterização de tumores em cães e gatos. Essa técnica utiliza anticorpos específicos para detectar antígenos em seções de tecido, proporcionando informações valiosas sobre a origem celular e o comportamento biológico das neoplasias. Neste texto, abordaremos a aplicação da imuno-histoquímica em tumores comuns em cães e gatos, com ênfase em mastocitomas caninos, linfomas, tumores de mama e neoplasias indiferenciadas.

Exames disponíveis no Axys

Amostra: tecido fixado em formol 10% ou bloco de parafina. Necessária histopatologia prévia com diagnóstico tumoral para utilização dos anticorpos específicos.

Prazo: 10 dias úteis.

Fundamentos da Imuno-histoquímica

A imuno-histoquímica baseia-se na interação entre antígenos presentes nas células tumorais e anticorpos marcados com um sinalizador, que pode ser uma enzima ou um fluorocromo. Após a aplicação do anticorpo, as seções de tecido são tratadas para permitir a visualização do complexo antígeno-anticorpo. Essa técnica é crucial para a classificação dos tumores, ajudando a determinar o prognóstico e a escolha do tratamento.

Limitações da Técnica de Imuno-Histoquímica

  1. Especificidade dos Anticorpos: A escolha de anticorpos primários é crucial para a precisão da IHC. Anticorpos que não são altamente específicos podem se ligar a antígenos não-alvo, resultando em falsos positivos. Além disso, a qualidade dos anticorpos pode variar, afetando a reatividade e a interpretação dos resultados.
  2. Condições de Processamento: O processamento inadequado das amostras, como a fixação inadequada ou a inclusão em parafina, pode alterar a estrutura dos antígenos, levando a uma perda de reatividade. Isso pode resultar em falsos negativos, onde a presença do antígeno não é detectada.
  3. Diluição e Concentração dos Anticorpos: A diluição inadequada dos anticorpos pode afetar a sensibilidade do teste. Concentrações muito altas podem causar ligações inespecíficas, enquanto concentrações muito baixas podem não detectar antígenos presentes, resultando em falsos negativos.
  4. Interferência de Outros Componentes: A presença de substâncias endógenas, como proteínas ou lipídios, pode interferir na ligação do anticorpo ao antígeno, levando a resultados imprecisos. Além disso, a presença de autofluorescência em tecidos pode complicar a interpretação dos resultados.
  5. Variabilidade Interobservador: A interpretação dos resultados de IHC pode ser subjetiva e variar entre diferentes patologistas. Essa variabilidade pode levar a diagnósticos inconsistentes, contribuindo para a ocorrência de falsos positivos ou negativos.

Possíveis Alterações Diagnósticas

  1. Interpretação Errônea dos Resultados: A leitura e interpretação dos padrões de coloração podem ser desafiadoras. Um padrão de coloração fraco ou difuso pode ser mal interpretado como negativo, enquanto uma coloração intensa em áreas não relevantes pode ser considerada positiva.
  2. Alterações no Tecido: A presença de necrose ou inflamação no tecido pode afetar a expressão de antígenos, levando a resultados falsos negativos. Além disso, a heterogeneidade tumoral pode resultar em áreas onde o antígeno não é expresso, mesmo que a doença esteja presente.
  3. Fatores Pré-Analíticos: A coleta, transporte e armazenamento inadequados das amostras podem comprometer a integridade do tecido e, consequentemente, a precisão do exame de IHC.

Mastocitomas Caninos

Os mastocitomas são um dos tumores cutâneos mais comuns em cães, originando-se de mastócitos. A imuno-histoquímica é essencial para confirmar o diagnóstico e auxiliar no prognóstico e tratamento, uma vez que a morfologia dos mastocitomas pode variar amplamente. Os marcadores típicos utilizados incluem:

  • CD117 (c-KIT): A expressão de CD117 é um dos principais critérios para o diagnóstico de mastocitomas. A ativação do gene c-KIT está frequentemente associada a uma forma mais agressiva da doença. Os critérios de avaliação do c-KIT em mastocitomas cutâneos em cães são fundamentais para determinar o prognóstico e a abordagem terapêutica. Aqui estão alguns dos principais critérios utilizados:
    • Expressão de c-KIT: A presença e a intensidade da expressão de c-KIT nas células tumorais são avaliadas por meio de técnicas como imunohistoquímica. A expressão pode ser classificada como positiva ou negativa, e a intensidade pode ser graduada em uma escala de I a III.
    • Mutação do c-KIT: A análise genética pode ser realizada para identificar mutações no gene c-KIT, que são frequentemente associadas a mastocitomas em cães. As mutações mais comuns ocorrem nos exons 8 e 11, e a presença dessas mutações pode influenciar o tratamento e o prognóstico.
  • Ki-67: é uma proteína nuclear associada à proliferação celular. A sua expressão é avaliada por meio de técnicas de imuno-histoquímica, permitindo a quantificação da fração de células em divisão em uma amostra tumoral. Em mastocitomas cutâneos, níveis elevados de Ki-67 têm sido correlacionados com um maior potencial de agressividade e pior prognóstico. Estudos demonstram que a contagem de células Ki-67 positivas pode auxiliar na estratificação do risco e na tomada de decisões terapêuticas.
  • AgNOR (Argyrophilic Nucleolar Organizer Regions): são regiões do núcleo celular que se ligam a corantes argirófilos e estão associados à atividade ribossomal e à proliferação celular. A contagem de AgNORs é uma técnica que pode ser utilizada para avaliar a atividade proliferativa das células tumorais. Em mastocitomas cutâneos, uma maior contagem de AgNORs tem sido associada a um comportamento mais agressivo do tumor, indicando que essa avaliação pode ser um indicador prognóstico valioso.

A IHQ também pode ajudar a diferenciar mastocitomas de outras neoplasias cutâneas, como linfomas e sarcomas, que podem apresentar características morfológicas semelhantes.

Linfomas

Os linfomas são neoplasias malignas que afetam o sistema linfático e podem ocorrer em cães e gatos. A imuno-histoquímica é crucial para a classificação dos linfomas, que podem ser de origem B ou T. Os principais marcadores utilizados incluem:

  • CD20: Marcador de geral linfócitos.
  • CD3: Um marcador específico para linfócitos T, que ajuda a identificar linfomas de células T.
  • CD79a: Um marcador para linfócitos B, utilizado na identificação de linfomas de células B.
  • PAX5: Outro marcador importante para linfócitos B, que pode ser utilizado em casos em que a expressão de CD79a é fraca ou ausente.
  • Outros marcadores: em casos de linfomas de tipos especiais e nulos.

A IHQ não apenas auxilia no diagnóstico, mas também fornece informações prognósticas, uma vez que a origem celular do linfoma pode influenciar a resposta ao tratamento.

Tumores de Mama

Os tumores de mama em cães e gatos são comuns e podem variar de benignos a malignos. A imuno-histoquímica é utilizada para caracterizar esses tumores e determinar o tratamento adequado. Os marcadores frequentemente utilizados incluem:

  • Receptores hormonais (ER e PR): A presença de receptores de estrogênio (ER) e progesterona (PR) é um indicador importante para o tratamento hormonal, especialmente em tumores malignos.
  • Ki-67: Um marcador de proliferação celular que pode ajudar a avaliar a agressividade do tumor.
  • COX-2: A enzima ciclooxigenase-2 (COX-2) é uma isoforma da ciclooxigenase que desempenha um papel crucial na inflamação e na carcinogênese. Em cães, a expressão de COX-2 tem sido associada a diversos tipos de tumores, incluindo os tumores de mama, que são uma das neoplasias mais comuns em fêmeas caninas. A avaliação da expressão de COX-2 pode ajudar a determinar o prognóstico e a resposta ao tratamento. Além disso, inibidores da COX-2, como o celecoxibe, têm sido estudados como uma possível terapia adjuvante em casos de câncer, visando reduzir a progressão tumoral e melhorar a sobrevida.

A IHQ permite a estratificação dos tumores de mama, ajudando a prever o comportamento biológico e a resposta ao tratamento.

Neoplasias Indiferenciadas

As neoplasias indiferenciadas representam um desafio diagnóstico significativo, pois suas características histológicas não permitem uma classificação clara. A imuno-histoquímica é uma ferramenta valiosa para tentar identificar a origem celular dessas neoplasias. Os marcadores utilizados podem incluir:

  • Citoqueratinas: Para identificar neoplasias epiteliais.
  • Vimentina: Para neoplasias mesenquimatosas.
  • CD34: Para identificar tumores vasculares ou de células-tronco.
  • Outros marcadores: utilizam-se marcadores específicos para tipos celulares para auxiliar na origem celular do tumor.

A utilização de painéis de marcadores pode ser necessária para alcançar um diagnóstico mais preciso, uma vez que as neoplasias indiferenciadas podem ter uma apresentação muito variável.

Conclusão

A imuno-histoquímica é uma ferramenta indispensável na patologia veterinária, especialmente na avaliação de tumores em cães e gatos. Através da identificação de marcadores específicos, é possível não apenas confirmar diagnósticos, mas também estratificar tumores e prever prognósticos. No caso de mastocitomas caninos, linfomas, tumores de mama e neoplasias indiferenciadas, a IHQ desempenha um papel crucial na definição do tratamento e na compreensão do comportamento biológico das neoplasias. O avanço contínuo das técnicas de imuno-histoquímica promete melhorar ainda mais a precisão diagnóstica e a eficácia terapêutica na oncologia veterinária.