Doença inflamatória intestinal e linfoma em gatos

Doença inflamatória intestinal e linfoma em gatos

A Doença Inflamatória Intestinal (DII) em gatos é uma condição complexa e multifatorial que afeta o trato gastrointestinal, resultando em uma série de sintomas que podem impactar significativamente a qualidade de vida dos felinos. A DII é caracterizada por uma inflamação crônica da mucosa intestinal, que pode levar a alterações na absorção de nutrientes, diarreia, vômitos e perda de peso. Este texto busca explorar em profundidade a DII em gatos, seus meios diagnósticos, a associação com linfomas alimentares, a idade dos animais afetados e os testes utilizados para o diagnóstico.

Amostra: biópsia de intestino (fragmentos em potes separados previamente identificados) ou blocos de parafina. Necessária a avaliação da histopatologia antes da realização da imuno-histoquímica.

Prazo: 7 a 15 dias úteis.

Exames realizados no Axys

​Combo:

  • DILAG LINFOMA ALIMENTAR/DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL (DII) (combo - histopatologia e imuno-histoquímica) 

​Exames individuais relacionados:

Definição e Etiologia

A Doença Inflamatória Intestinal em gatos é uma condição que envolve a infiltração de células inflamatórias na parede intestinal. Embora a etiologia exata da DII ainda não seja completamente compreendida, acredita-se que uma combinação de fatores genéticos, ambientais e imunológicos contribua para o seu desenvolvimento. A DII pode ser classificada em diferentes tipos, dependendo do tipo de células inflamatórias predominantes, como linfócitos, plasmócitos ou eosinófilos. A DII pode afetar gatos de qualquer idade, mas é mais comumente diagnosticada em gatos de meia-idade a idosos. A prevalência aumenta com a idade, possivelmente devido a fatores imunológicos e à exposição acumulada a agentes ambientais. Gatos mais velhos também podem apresentar comorbidades que complicam o diagnóstico e o tratamento da DII.

Sintomas Clínicos

Os sintomas da DII em gatos podem variar amplamente, mas geralmente incluem:

  • Diarreia crônica
  • Vômitos frequentes
  • Perda de peso
  • Aumento do apetite (polifagia) ou diminuição do apetite (anorexia)
  • Letargia
  • Desidratação

Esses sinais podem ser intermitentes ou persistentes, e a gravidade pode variar de leve a severa, dependendo da extensão da inflamação e da resposta do animal ao tratamento.

Diagnóstico

O diagnóstico da DII em gatos é um processo que envolve uma combinação de avaliação clínica, exames laboratoriais e, frequentemente, procedimentos de imagem. Os principais métodos diagnósticos incluem:

​Avaliação Clínica

​O veterinário realizará uma anamnese detalhada e um exame físico completo. A história clínica do gato, incluindo a duração e a natureza dos sintomas, é crucial para o diagnóstico.

​Exames Laboratoriais

  • Hemograma Completo: Pode revelar anemia, leucocitose ou leucopenia, dependendo da gravidade da inflamação.
  • Bioquímica Sanguínea: Avalia a função hepática e renal, além de eletrólitos e proteínas totais.
  • Análise de Fezes: Exclui parasitas intestinais e infecções bacterianas.

​Exames de Imagem

  • Ultrassonografia Abdominal: Permite a visualização da parede intestinal e pode ajudar a identificar espessamento da mucosa, linfonodos aumentados e outras anormalidades.
  • Radiografias: Podem ser úteis para descartar obstruções ou outras anormalidades.

Biópsia Intestinal

A biópsia é o padrão-ouro para o diagnóstico da DII. Pode ser realizada por endoscopia ou cirurgia, permitindo a coleta de amostras de tecido intestinal para análise histopatológica. A biópsia ajuda a determinar o tipo de inflamação e a presença de outras condições, como linfomas.

Associação com Linfomas Alimentares

A DII em gatos tem uma associação significativa com linfomas alimentares, que são tumores malignos que afetam o trato gastrointestinal. Estudos sugerem que a inflamação crônica associada à DII pode predispor os gatos ao desenvolvimento de linfomas. A presença de linfoma pode complicar o diagnóstico, uma vez que os sintomas podem se sobrepor. A diferenciação entre DII e linfoma é crucial, pois o tratamento e o prognóstico variam consideravelmente entre essas condições.

Histopatologia e imuno-histoquímica

A imuno-histoquímica (IHQ) é uma técnica fundamental na diferenciação entre linfoma intestinal e doença inflamatória intestinal (DII) em gatos. Ambas as condições podem apresentar sintomas clínicos semelhantes, como diarreia crônica, perda de peso e vômitos, o que torna o diagnóstico preciso crucial para o manejo adequado do paciente. Estes são os motivos para se solicitar sempre o combo de histopatologia e imuno-histoquímica para o diagnóstico dessas duas doenças:

  1. Diagnóstico Diferencial: A IHQ permite a identificação de marcadores específicos que ajudam a distinguir entre linfoma e DII. Enquanto o linfoma é uma neoplasia maligna que resulta da proliferação descontrolada de células linfoides, a DII é uma condição inflamatória que pode ser causada por uma variedade de fatores, incluindo alergias alimentares, infecções ou doenças autoimunes.
  2. Identificação de Células Tumorais: A IHQ utiliza anticorpos específicos para detectar antígenos em células de tecidos. No caso do linfoma, a presença de células neoplásicas que expressam marcadores como CD3 (para linfócitos T) ou CD79a (para linfócitos B) pode ser observada. Essa identificação é crucial, pois a presença de um padrão de expressão celular específico pode confirmar o diagnóstico de linfoma.
  3. Orientação para o Tratamento: A diferenciação entre linfoma e DII é vital para a escolha do tratamento. Enquanto o linfoma pode exigir quimioterapia ou radioterapia, a DII pode ser tratada com corticosteroides e modificadores da dieta. Um diagnóstico preciso, facilitado pela IHQ, garante que os gatos recebam o tratamento mais apropriado.

Dificuldades no diagnóstico laboratorial

O diagnóstico diferencial entre a Doença Inflamatória Intestinal (DII) e o linfoma de baixo grau em gatos é um dos maiores desafios na gastroenterologia felina. A dificuldade reside principalmente na sobreposição de sinais clínicos e na semelhança morfológica das células inflamatórias e neoplásicas, o que torna a histopatologia isolada muitas vezes inconclusiva. Para superar esse obstáculo, uma abordagem diagnóstica combinada, que inclui histopatologia, imuno-histoquímica e PCR, é fundamental.

A Dificuldade de Diagnóstico

  • Histopatologia: Esta é a principal ferramenta de diagnóstico, mas apresenta limitações. A DII é caracterizada por um infiltrado de células inflamatórias (linfócitos, plasmócitos, eosinófilos) na parede intestinal. O linfoma intestinal de baixo grau também é composto por uma proliferação de linfócitos pequenos e bem diferenciados. A distinção entre uma inflamação intensa (DII) e uma infiltração neoplásica sutil (linfoma) pode ser subjetiva e interpretativa, especialmente se o patologista não tiver acesso a amostras de espessura total.
  • Imuno-histoquímica: Esta técnica avança a análise histopatológica ao utilizar anticorpos para identificar marcadores específicos nas células. A imuno-histoquímica ajuda a determinar o tipo de célula envolvida (T ou B) e pode indicar a natureza clonal da população, sugerindo a presença de linfoma. No entanto, mesmo com esta técnica, alguns casos permanecem ambíguos, com resultados que não permitem uma diferenciação clara.
  • PCR para Rearranjos de Receptores de Antígeno (PARR): Este é o método mais avançado para estabelecer a clonalidade das células e é crucial para diferenciar DII de linfoma. O teste busca por um padrão genético único nas células linfoides:
    • Em casos de DII, a inflamação é uma resposta imunológica composta por uma população de linfócitos de diversas origens, resultando em uma amostra policlonal. O teste PARR resulta negativo para clonalidade.
    • Em casos de linfoma, o tumor é resultado da proliferação descontrolada de uma única célula anormal, criando uma população clonal. O teste PARR é capaz de detectar essa clonalidade.

Algoritmo de Diagnóstico Combinado

O diagnóstico preciso de DII vs. linfoma em gatos deve seguir uma abordagem sistemática e combinada:

  1. Suspeita Clínica e Exclusão:
    • Iniciar com um paciente que apresenta sinais clínicos crônicos (vômito, diarreia, perda de peso) por mais de três semanas.
    • Realizar exames para excluir outras causas comuns, como parasitismo, sensibilidade alimentar, pancreatite e hipertireoidismo.
  2. Biópsia Intestinal:
    • Amostras de tecido devem ser coletadas, idealmente por laparotomia exploratória, pois esta permite a coleta de amostras de espessura total e de linfonodos mesentéricos, que podem estar afetados. A biópsia endoscópica, embora menos invasiva, coleta apenas amostras da mucosa e pode não ser suficiente.
  3. Análise Histopatológica, Imuno-histoquímica e PARR:
    • Passo A: As amostras de biópsia são primeiramente analisadas por histopatologia.
    • Passo B: Se a histopatologia for conclusiva para linfoma, o diagnóstico é estabelecido. Se o resultado for inconclusivo ou indicar uma inflamação intensa, proceder para os próximos testes.
    • Passo C: Realizar a imuno-histoquímica para determinar o tipo celular (T ou B) e procurar evidências de clonalidade.
    • Passo D: Se a imuno-histoquímica ainda não for definitiva, ou para confirmar os achados, realizar o teste PARR.
  4. Interpretação e Tratamento:
    • Resultado Policlonal (PARR negativo): O diagnóstico é de DII. O tratamento deve focar em dieta, imunossupressores e outras terapias de suporte.
    • Resultado Clonal (PARR positivo): O diagnóstico é de linfoma. O tratamento deve ser um protocolo quimioterápico adequado.

Essa abordagem em múltiplos passos minimiza a chance de erros de diagnóstico e permite a escolha da terapia mais eficaz, crucial para o prognóstico de ambas as doenças. No entanto, mais estudos ainda estão sendo realizados para melhora no diagnóstico através deste algoritmo.

Conclusão

A Doença Inflamatória Intestinal em gatos é uma condição desafiadora que requer um diagnóstico cuidadoso e uma abordagem terapêutica individualizada. A associação com linfomas alimentares e a variação na apresentação clínica conforme a idade do animal tornam o manejo dessa condição ainda mais complexo. O veterinário deve considerar uma combinação de métodos diagnósticos para chegar a um diagnóstico preciso e desenvolver um plano de tratamento eficaz. A pesquisa contínua é essencial para melhorar a compreensão da DII em gatos e suas implicações clínicas.